Mãe, tombo não é modalidade olímpica!

E o pânico? Pânico que me deu! O Rio fervilhava em preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, mas o que realmente me paralisou foi a ligação que recebi: “Sua mãe sofreu uma queda e precisa de que alguém venha buscá-la”. Era o trocador do ônibus na linha. O frio começou na barriga, fez um buraco no estômago e de tão forte deu um nó na garganta. Ainda bem que não desceu. Senão estaria literalmente borrado.

Foi com essa emoção que começa essa jornada aqui em casa. Mas, antes, pensei “Deus do céu, outro tombo?” E corro até o ponto de ônibus que era o mais próximo aqui do nosso condomínio. O choro e o medo eram os responsáveis por apertar a garganta, mas, ao vê-la viva, foi um suspiro enorme, e aquela bolinha na garganta foi descendo e se desfazendo. Sabe?

Aqui em casa, eu e minha mãe sempre fomos aquelas pessoas que ao levantar, ao invés de pentear os cabelos, primeiro procurávamos a ponta do pavio. Depois começávamos o dia com um cafezinho puro.

Ao chegarmos em casa, minha irmã, a do meio, apavorada, era a tremedeira encarnada. E começamos o interrogatório com minha mãe e o “examina a cabeça”, “põe gelo”, “vamos ao médico?”, “bebe água com açúcar e se acalma”.….

Depois que o pânico passou, veio a raiva. Raiva pela teimosia, pela falta de cuidado, pela artrose no pé direito, pela desatenção. E aí vamos destrinchando todos os argumentos pra esconder ou aliviar o pavor de ver a mãe morrer na rua, caída, por um tombo.

Aos poucos minha irmã vai se acalmando, com o seu gesto típico de levar a mão ao coração, ainda tremendo e sem saber se engaja nos meus impropérios ou se afaga nossa mãe. E, minha mãe? Como ela estava se sentindo?

Por dentro, uma tempestade. Por fora, ela tentava manter o controle, quase como se quisesse convencer a todos — e a si mesma — de que nada tinha acontecido. “Foi só mais um tombo”. Quase normalizando a situação.

Daí, como as boas e simpáticas velhinhas fofoqueiras, vamos ligar pra irmã caçula, que a essa hora devia estar falando das maravilhas de algum produto de refrigeração em alguma loja do Rio. Ela era promotora de vendas. E, dentre nós, irmãos, a mais parecida comigo, primeiro entubava o medo e o pavor; depois, quando tropeçava em alguma pedrinha da vida, soltava o danado que ficava ali encarapitado no pescoço, fazendo peso. Ocupada, ela exclamou do outro da linha: “de novo?” E eu só respondi, “é!” Ela de volta, diz “depois a gente, conversa”. Mas, aquela bolinha que em mim foi descendo, nela pareceu que foi subindo.

Quando o carrossel de emoções – e das mais variadas possíveis – para de girar, e todos estão voltando às suas atividades, é quando começo a refletir sobre as quedas da mãe, que já estava começando a perder a conta. Lembrei que tinha que ligar pro meu irmão e conversar com ele sobre mais um tombo.

Passei o resto da tarde, entre um job e outro, pensando sobre o que fazer e sobre como conversar com Dona Adelina, nossa mãezinha sapeca, independente, voluntariosa e alegre. É sério, ela já tinha caído outras vezes na rua e uma outra em casa. Mas, a culpa sempre era da artrose… Só que não!

É claro que herdei esse bom humor, um tanto de deboche e o pavio curto da minha excelentíssima senhora mãe. Sendo assim, comecei a conversa com ela: mãe, “pelamordedeus, não existe tombo olímpico como modalidade! Já não é de hoje que você vem treinando e eu venho falando, para com isso! Não tem essa modalidade”.

Meio a contragosto, ela começou a refletir sobre isso, pois não eram só os tombos que começavam a assustá-la. Vez ou outra, ela me dizia que sentia algumas tremedeiras, mas logo passavam. E foi assim que a suíte que era meu quarto e escritório ganhou uma nova ocupante e que os computadores foram parar na sala. Mas, esse é só o começo…

Hoje, em 2024, sei que quedas, artrose e tremores são sinais sérios. Se você ou alguém próximo passar por isso, procure um especialista. Não espere mais.

No próximo post, conto mais sobre a última queda que deu início a esse blog!

Sinto muito.
Me perdoe.
Te amo.
Sou grato!

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